Sallum, M. & Noelli, F.S. (2022) ““Política da consideração” e o significado das coisas: A persistência de comunidades de práticas agroflorestais em São Paulo.” Cadernos Do LEPAARQ (UFPEL), 19(37), 356-389.

https://doi.org/10.15210/lepaarq.v19i37.22874

RESUMO: As comunidades agroflorestais sempre formaram os lugares mais numerosos no Brasil, até o presente. As suas relações sociais foram pautadas pela “política da consideração” e economia de colaboração, diferentemente do sistema patriarcal e mercantil europeu. As mulheres tinham proeminência nas comunidades e práticas autossustentadas, segurançaalimentar, produção de materialidade e transmissão de conhecimentos. Em São Paulo, a partir de 1502 houve um con-texto específico de colonialismo, onde as comunidades Tupiniquim transformaram as relações com parte dos portugueses em relações de aliança, parentesco e consideração, amansando-os e criando materialidades, a exemplo da Cerâmica Paulista. Os portugueses não dominaram as comunidades Tupiniquim, mas uma parte deles ingressou nas comunidades de práticas indíge-nas, formando posteriormente o “autonomismo paulista”. Nesse contexto, coexistiram práticas colaborativas e de mercado, incorporando pessoas, coisas e conhecimentos de diversos lugares, como um modo de vida diferente daquele desenvolvido nos núcleos urbanos e nas plantations. É preciso compreender que as comunidades tiveram diferentes processos históricos que permi-tiram as suas persistências até o presente. Há o caso das mulheres que continuam produzindo a Cerâmica Paulista, mas não se consideram indígenas; enquanto outras comunidades, como as Tupi Guarani de Piaçaguera (São Paulo), reivindicam abertamente a identidade “misturada” en-tre Tupi e Guarani e manifestam o interesse em retomar a produção cerâmica que deixaram de fazer no passado. É um exemplo que exige a reavaliação do apagamento acadêmico dos povos indígenas na historiografia, arqueologia e antropologia em São Paulo, pois eles estão presentes independentemente das narrativas que as pessoas de fora têm produzido a seu respeito.

Figura 1. Lugares de comunidades de práticas agroflorestais (século 16 ao presente). Crédito: Elaborado pelxs autorxs.

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